FAMÍLIA, VIDA E MISSÃO

Que a Família seja: O Sal da Terra, Luz que ilumina, encobrindo as trevas.

terça-feira

4 ‑ A Família e a Igreja

4.1‑ Concílio Vaticano II
Na constituição pastoral Gaudium et Spes, coloca‑se o matrimônio e família como sendo um dos "problemas mais urgentes deste tempo que mais atingem o gênero humano" (n. 46). O documento enfatiza os seguintes pontos:
a) O matrimônio e a família no mundo de hoje: A salvação da pessoa e da humanidade depende do bem‑estar da comunidade familiar. Este bem‑estar é frequentemente comprometido por vários fatores: poligamia, divórcio, amor livre, egoísmo, hedonismo, práticas ilícitas contra a geração, atuais condições econômicas, sócio‑psicológicas e civis, problemas derivados do crescimento demográfico. Ainda assim, a força e o vigor da instituição matrimonial e familiar se evidenciam, a despeito das dificuldades.
b) A santidade do matrimônio e da família: O vínculo matrimonial (e familiar) é firmado por uma ordenação divina, sendo portanto sagrado, e não depende do arbítrio humano. "O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino, e é guiado e enriquecido pelo poder redentor de Cristo e pela ação salvífica da Igreja, para que os esposos sejam conduzidos eficazmente a Deus e ajudados e confortados na sublime missão de pai e mãe. Por isso os esposos cristãos são robustecidos e como que consagrados para os deveres e dignidades de seu encargo por um sacramento especial. Exercendo seu múnus conjugal e familiar em virtude desse sacramento, imbuídos do Espírito de Cristo que lhes impregna toda a vida com a fé, a esperança e a caridade, aproximam‑se cada vez mais de sua própria perfeição e mútua santificação e, assim unidos, contribuem para a glorificação de Deus.
Em consequência, marchando à frente os próprios pais com o exemplo e a oração familiar, os filhos e mesmo todos os que convivem no círculo da família encontrarão mais facilmente o caminho de humanidade, de salvação e de santidade" (n.48).
c) O amor conjugal: "Esta afeição se exprime e se realiza de maneira singular pelo ato próprio do matrimônio. Por isso os atos pelos quais os cônjuges se unam íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido [...] Mas o autêntico amor conjugal será tido em melhor estima e ganhará um sadio conceito na opinião pública se os cônjuges cristãos se distinguirem em dar testemunho de fidelidade e harmonia nesse amor e no cuidado pela educação dos filhos, e se participarem ativamente na imprescindível renovação cultural, psicológica e social em favor do matrimônio e da família. Os jovens devem ser instruídos convenientemente e a tempo sobre a dignidade, a função e o exercício do amor conjugal, afim de que, preparados no cultivo da castidade, possam passar, na idade própria, do noivado honesto para as núpcias"(n.49).
d) A fecundidade do matrimônio: "O matrimônio e o amor conjugal por sua própria índole se ordenam à procriação e educação dos filhos. Aliás, os filhos são dom mais excelente do matrimônio e constituem um beneficio máximo para os próprios pais. Deus mesmo que disse: 'Não convém ao homem ficar sozinho' (Gn 2,18) e 'Criou de início o homem como varão e mulher' (Mt 19,4), querendo conferir ao homem uma participação especial em sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher dizendo: 'Crescei e multiplicai‑vos'(Gn 1,28) [...] O matrimônio, porém, não foi instituído apenas para o fim da procriação. Mas a própria índole do pacto indissolúvel entre pessoas e o bem da prole exigem que também o amor recíproco se realiza com reta ordem, que cresça e que amadureça. Por isso, embora os filhos muitas vezes tão desejados faltem, continua o matrimônio como íntima comunhão de toda a vida, conservando seu valor e sua indissolubilidade"(n.50).
e) A harmonização do amor conjugal com o respeito à vida humana: "Deus, com efeito, que é o Senhor da vida, confiou aos homens o nobre encargo de preservar a vida para ser exercido de maneira condigna do homem. Por isso a vida deve ser protegida com o máximo cuidado desde a concepção. O aborto, como o infanticídio, são crimes nefandos (abomináveis). Por outro lado, a sexualidade própria do homem e a faculdade humana de gerar excedem maravilhosamente o que se encontra nos graus inferiores de vida. Em consequência, os atos próprios da vida conjugal, regulados segundo a autêntica dignidade humana, devem ser religiosamente respeitados. Por isso a moralidade da maneira de agir, quando se trata de harmonizar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, não depende apenas da intenção sincera e da reta apreciação dos motivos, mas deve ser determinada segundo critérios objetivos tirados da natureza da pessoa e de seus atos, critérios esses que respeitam o sentido integral da doação mútua e da procriação humana no contexto do verdadeiro amor. Tudo isso é impossível se a virtude da castidade conjugal não for cultivada com sinceridade"(n.51).
f) A promoção do matrimônio e da família como dever de todos: "A família, na qual convivem várias gerações que se ajudam mutuamente em adquirir maior sabedoria e em harmonizar os direitos pessoais com as outras exigências sociais, constitui o fundamento da sociedade. Por isso todos aqueles que exercem influência nas comunidades e nos grupos sociais devem trabalhar eficazmente para a promoção do matrimônio e da família" (n.52).
No decreto Apostolicam Actuositatem é dito que "o apostolado dos cônjuges e das famílias assume importância singular, tanto em benefício da Igreja quanto da sociedade civil. Os cônjuges cristãos constituem um para o outro, para os filhos e demais familiares, cooperadores da graça e testemunhas da fé. Para os filhos são eles os primeiros anunciadores e educadores da fé. Formam‑nos para a vida cristã e apostólica pela palavra e pelo exemplo. Ajudam‑nos com prudência na escolha da vocação e fomentam com todo zelo a vocação sagrada, que por acaso neles descubram [...] A família recebeu de Deus a missão de constituir a célula primária e vital da sociedade"(n. 11).
4.2 ‑ Puebla
Os bispos latino‑americanos definem a família como sendo "sujeito e objeto de evangelização, centro evangelizador de comunhão e participação" (n.569). Outras citações importantes:
"A família apresenta‑se, outrossim, como vítima dos que convertem em ídolos o poder, a riqueza e o sexo. Para isto contribuem as estruturas injustas, sobretudo os meios de comunicação, não só com suas mensagens de sexo, lucro, violência, poder, ostentação, mas também pondo em destaque elementos que contribuem para propagar o divórcio, a infidelidade conjugal e o aborto ou a aceitação do amor livre e das relações pré‑matrimoniais"(n.573).
"A família é imagem de Deus, que 'no mais íntimo do seu mistério não é solidão, mas uma família'(João Paulo II, Homilia Puebla 2, AAS LX~ p.l84). É urna aliança de pessoas, à qual se chega por vocação amorosa do Pai, que convida os esposos a uma ' íntima comunidade de vida e amor'(GS 48). A lei do amor conjugal é comunhão e participação, não dominação. É uma exclusiva, irrevogável e fecunda entrega à pessoa amada, sem perder a própria identidade. Um amor assim compreendido, em sua rica realidade sacramental, é mais do que um contrato; possui as características de Aliança"(n.582).
"A sociedade, para que funcione, requer as mesmas exigências do lar: formar pessoas conscientes, unidas em comunidade de fraternidade para fomentar o desenvolvimento comum. A oração, o trabalho e a atividade educadora da família, como célula social, devem, pois, orientar‑se a trocar estruturas injustas pela comunhão e participação entre os homens e pela celebração da fé na vida quotidiana"(n.587).
4.3 ‑ Familiaris Consortio
A exortação apostólica Familiaris Consortio, de João Paulo II, publicada em 1981 faz uma abordagem ampla e direta sobre os aspectos que envolvem a família, além do que encerra todo um direcionamento sobre a postura e o papel da família cristã na atualidade. Na introdução, afirma o papa:
"A família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura". Continua, dizendo que "a família cristã, de fato, é a primeira comunidade chamada a anunciar o Evangelho à pessoa humana em crescimento e a levá‑la, através de uma catequese e de uma educação progressiva, à plenitude da maturidade humana" e "só com o acolhimento do Evangelho encontra realização plena toda a esperança que o homem põe legitimamente no matrimônio e na família".
Quando se refere aos deveres da família cristã, o Santo Padre afirma que "no plano de Deus Criador e Redentor a família descobre não só a sua 'identidade', o que 'é', mas também a sua 'missão', o que ela pode e deve 'fazer'. As tarefas, que a família é chamada por Deus a desenvolver na história, brotam do seu próprio ser e representam o seu desenvolvimento dinâmico e existencial; Cada família descobre e encontra em si mesma o apelo inextinguível, que ao mesmo tempo define a sua dignidade e sua responsabilidade: família, torna-te aquilo que és!” (p. 20).
4.4 - Christifideles Laici
O documento, que trata da vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, diz que a família é o "primeiro espaço para o engajamento social" (p.71). Afirma ainda:
"A primeira e originária expressão de dimensão social da pessoa é o casal e a família. 'Deus não criou o homem para o deixar sozinho; desde o princípio 'homem e mulher os criou' (Gn 1,27), e a sua união constitui a primeira expressão de comunhão de pessoas' (GS 24). Jesus mostrou‑se preocupado em restituir ao casal a sua inteira dignidade (cf. Mt 19,3‑9) e à família a sua própria solidez (cf. Mt 19,4‑6); São Paulo mostrou a relação profunda do matrimônio com o mistério de Cristo e da Igreja (cf. Ef 5,22‑34; C13,18‑21; 1Pd 3,1‑7)"(n.40)
"A ação apostólica dos fiéis leigos consiste, antes de tudo, em tornar a família consciente da sua identidade de primeiro núcleo social de base e do seu papel original da sociedade, para que a própria família se torne cada vez mais protagonista ativa e responsável do seu crescimento e da sua participação na vida social. Dessa forma, a família poderá e deverá exigir de todos, a começar pelas autoridades públicas, o respeito por aqueles direitos que, salvando a família, salvem a mesma sociedade"(idem).
4.5 ‑ Santo Domingo
"A Igreja anuncia com alegria e convicção a Boa Nova sobre a família na qual se forja o futuro da humanidade e se concretiza a fronteira decisiva da Nova Evangelização"(n.210).
"No plano de Deus Criador e Redentor a família descobre não só sua identidade senão também sua missão: cuidar, revelar e comunicar o amor e a vida, através de quatro atos fundamentais (FC 17):
a) A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar‑se como comunidade de pessoas que se caracteriza pela unidade e indissolubilidade. A família é o lugar privilegiado para a realização pessoal junto com os seres amados.
b) Ser 'como o santuário da vida' (CA 39), serva da vida, já que o direito à vida é a base de todos os direitos humanos. Este serviço não se reduz só à procriação, é antes auxílio eficaz para transmitir e educar em valores autenticamente humanos e cristãos.
c) Ser célula primária e vital da sociedade' (FC 22). Por sua natureza e vocação, a família deve ser promotora do desenvolvimento protagonista de uma autêntica política familiar.
d) Ser 'Igreja Doméstica' que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus, é santuário onde se edifica a santidade e a partir de onde a Igreja e o mundo podem ser santificados (FC 55).
4.6 ‑ Carta às Famílias
Diz João Paulo II nesta carta: "A família tem a sua origem naquele mesmo amor com que o Criador abraça o mundo criado, como se afirma já 'ao princípio', no livro do Gênesis (1,1). Uma suprema confirmação disso mesmo, no‑la oferece Jesus no Evangelho: 'Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito' (Jo 3,16). O Filho Unigênito, consubstancial ao Pai, 'Deus de Deus, Luz da Luz', entrou na história dos homens através da família: 'Pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu‑se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, (...) amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado' (GS 22). Se é certo que Cristo 'revela plenamente o homem a si mesmo'(idem), fá‑lo a começar da família onde Ele escolheu nascer e crescer. Sabe‑se que o Redentor passou grande parte da sua vida no recanto escondido de Nazaré, 'submisso' (Lc 2,51) como 'filho do homem' a Maria, sua Mãe, e a José, o carpinteiro. Esta sua 'obediência' ao Pai 'até a morte' (F1 2,8), por meio da qual redimiu o mundo?
O mistério divino da Encarnação do Verbo está, pois, em estreita relação com a família humana. Não apenas com uma ‑ a família de Nazaré ‑, mas de certa forma com cada família, analogamente a quanto afirma o Concílio Vaticano II do Filho de Deus que, na encarnação, 'Se uniu de certo modo com cada homem'(GS 22). Seguindo a Cristo que 'veio' ao mundo 'para servir' (Mt 20,28), a Igreja considera o serviço à família uma das suas obrigações essenciais. Nesse sentido, tanto o homem como a família constituem a 'via da Igreja'”.

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