A DIVERSIDADE DO TEMPO - DOM DADEUS GRINGS

A DIVERSIDADE DO TEMPO - DOM DADEUS GRINGS

A filosofia empenha-se em explicar o espaço e o tempo. Chegou a definir o tempo como número de movimento, segundo o anterior e o posterior. Olhando-o no contexto do universo, não suscita dúvidas. Medimos o tempo pelo número de anos, dias, horas... Quando nossos algarismos se tornam insuficientes para certas medidas, tomamos a velocidade da luz, que, para nós, é a mais rápida conhecida. Chegamos a falar de anos-luz.

Assim, o dia apresenta-se em três fases: manhã, tarde e noite. Todos se dão conta da diferença. Para realçar mais, essas fases são subdivididas, à semelhança da vida humana. Entre a manhã e a tarde, temos o meio-dia, que, evidentemente, tem uma característica própria e merece especial atenção. É a hora do almoço e de um descanso, que, pelo cômputo romano, recebeu o nome de sexta - é a sexta hora do horário imperial. Mas junto à manhã e à tarde colocam-se dois momentos muito significativos que podemos chamar de amanhecer e entardecer.

São os crepúsculos matutino e vespertino, respectivamente. Reportam-nos não só ao início e ao fim do dia, como também ao despertar e anoitecer da vida. O ano apresenta-se na diversidade das estações. Falamos da beleza da primavera, como início de um novo ano; do calor do verão, como ponto alto da caminhada; da poesia do outono, que nos despede do verão, para introduzir-nos, delicadamente nos rigores do inverno. Cada um percebe que tempo não é uma mera sucessão mecânica de momentos iguais. Enche-o de vida. Assim alarga o tempo presente, trazendo para ele, com sua memória, o passado e, com sua previsão, o futuro. Falamos de horas compridas e de outras, que passaram muito depressa. Nós fazemos nosso tempo. Damos-lhe qualidade, pela vida que nele envolvemos.

No momento presente nós somos o que nos fizemos ser, pelo emprego do tempo passado e pelo projeto do tempo futuro. Quanto mais alguém consegue trazer para dentro de seu presente, do passado e do futuro, tanto mais plenamente vive. Tempo é chance, é dom, é tarefa. Nós nos fazemos, ou seja, construímos nossa vida pelo e no tempo. Por isso a convivência das três idades: dos jovens, dos adultos e dos anciões, numa mesma família, é fundamental para a realização humana. Os três juntos formam a síntese do tempo e da vida. Devem ser vistos como um todo indissociável.

Em síntese: o tempo pode ser visto como número de movimento. Expressa quantidade. O tempo, como vida, porém, exprime a qualidade. Constamos três fases do dia: manhã, tarde, noite; e quatro estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Nosso tempo, porém, tem um peso de eternidade.