FAMÍLIA, VIDA E MISSÃO

Que a Família seja: O Sal da Terra, Luz que ilumina, encobrindo as trevas.

terça-feira

O Relacionamento Familiar

Os filhos, dom preciosíssimo do matrimônio
Segundo os desígnios de Deus, o matrimônio é o fundamento da mais ampla comunidade da família, pois que o próprio instituto do matrimônio e o amor conjugal se ordenam à procriação e educação da prole, na qual encontram a sua coroação.
Na sua realidade mais profunda, o amor é essencialmente dom e o amor conjugal, enquanto conduz os esposos ao "conhecimento" recíproco que os torna "uma só carne", não se esgota no interior do próprio casal, já que os habilita para a máxima doação possível, pela qual se tornam cooperadores com Deus no dom da vida a uma nova pessoa humana. Deste modo os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe.
Tornando‑se pais, os esposos recebem de Deus o dom de uma nova responsabilidade. O seu amor paternal é chamado a tornar‑se para os filhos o sinal visível do próprio amor de Deus, "do qual deriva toda a paternidade no céu e na terra" (Ef 3,15).
Não se deve todavia esquecer que, mesmo quando a procriação não é possível, nem por isso a vida conjugal perde o seu valor. A esterilidade física, de fato, pode ser para os esposos ocasião de outros serviços importantes à vida da pessoa humana, como, por exemplo, a adoção, as várias formas de obras educativas, a ajuda a outras famílias, às crianças pobres ou deficientes.
3.2 ‑ A Comunhão mais ampla da Família
A comunhão conjugal constitui o fundamento sobre o qual se continua a edificar a mais ampla comunhão da família: dos pais e dos filhos, dos irmãos e das irmãs entre si, dos parentes e de outros familiares.
Tal comunhão radica‑se nos laços naturais da carne e do sangue, e desenvolve‑se encontrando o seu aperfeiçoamento propriamente humano na instauração e amadurecimento dos laços ainda mais profundos e ricos do espírito: o amor, que anima as relações interpessoais dos diversos membros da família, constitui a força interior que plasma e vivifica a comunhão e a comunidade familiar.
A família cristã é, portanto, chamada a fazer a experiência de uma comunhão nova e original, que confirma e aperfeiçoa a comunhão natural e humana. Na realidade, a graça de Jesus Cristo, "o Primogênito entre muitos irmãos (Rm 8,29), é por sua natureza e dinamismo interior uma "graça de fraternidade", como a chama Santo Tomás de Aquino. O Espírito Santo, que se infunde na celebração dos sacramentos, é a raiz viva e o alimento inexaurível da comunhão sobrenatural que estreita e vincula os crentes com Cristo, na unidade da Igreja de Deus. Uma revelação e atuação específica da comunhão eclesial é constituída pela família cristã que também, por isto, se pode e deve chamar "Igreja Doméstica".
Todos os membros da família, cada um segundo o dom que lhe é peculiar, possuem a graça e a responsabilidade de constituir, dia após dia, a comunhão de pessoas, fazendo da família uma "escola de humanismo mais completo e mais rico" (GS 52): é o que vemos surgir com o cuidado e o amor para com os mais pequenos, os doentes e os anciãos; como o serviço recíproco de todos os dias: com a comparticipação nos bens, nas alegrias e nos sofrimentos.
Um momento fundamental para construir uma comunhão semelhante é constituído pelo intercâmbio educativo entre pais e filhos (cf. Ef 6,1‑4; Cl 3,20s), no qual cada um deles dá e recebe. Mediante o amor, o respeito, a obediência aos pais, os filhos dão a sua contribuição específica e insubstituível para a edificação de uma família totalmente humana e cristã (GS 48). Isso ser‑lhe‑á facilitado, se os pais exercerem a sua autoridade irrenunciável como um "ministério" verdadeiro e pessoal, ou seja, como um serviço ordenado ao bem humano e cristão dos filhos, ordenado particularmente a proporcionar‑lhes uma liberdade verdadeiramente responsável; e se os pais mantiverem viva a consciência do "dom" que recebem continuamente dos filhos.
A comunhão familiar só pode ser conservada e aperfeiçoada com grande espírito de sacrifício. Exige, de fato, de todos e de cada um, pronta e generosa disponibilidade à compreensão, à tolerância, ao perdão, à reconciliação. Nenhuma família ignora como o egoísmo, o desacordo, as tensões, os conflitos agridem, de forma violenta e às vezes mortal, a comunhão: daqui as múltiplas e variadas formas de divisão da vida familiar. Mas, ao mesmo tempo, cada família é sempre chamada pelo Deus da paz a fazer a experiência alegre e renovadora da "reconciliação", ou seja, da comunhão restabelecida, da unidade reencontrada. Em particular a participação no sacramento da reconciliação, ou seja, da comunhão restabelecida, da unidade reencontrada. Em particular, a participação no sacramento da reconciliação e no banquete do único corpo de Cristo oferece à família cristã a graça e a responsabilidade de superar todas as divisões e de caminhar pra a plena verdade, querida por Deus, respondendo assim ao vivíssio desejo do Senhor: que “todos sejam um” (Jo 17,21).
3.3 ‑ Os anciãos na família
Há culturas que manifestam uma veneração singular e uin grande amor pelo ancião: longe de ser excluído da família ou de ser suportado como um peso inútil, o ancião continua inserido na vida familiar, tomando nela parte ativa e responsável ‑ embora devendo respeitar a autonomia da nova família ‑ e sobretudo desenvolvendo a missão preciosa de testemunha do passado e de inspirador de sabedoria para os jovens e para o futuro.
Outras culturas, pelo contrário, especialmente depois de um desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, forçaram e continuam a forçar os anciãos a situações inaceitáveis de marginalização que são fonte de atrozes sofrimentos para eles mesmos e de empobrecimento espiritual para muitas famílias.
Na realidade, "a vida dos anciãos ajuda‑nos a esclarecer a escala dos valores humanos; mostra a continuidade das gerações e demonstra maravilhosamente a interdependência do povo de Deus. Os anciãos têm além disso o carisma de encher os espaços vazios entre gerações, antes que se sublevem. Quantas crianças têm encontrado compreensão e amor nos olhos, nas palavras e nos carinhos dos anciãos! E quantas pessoas de idade têm subscrito com gosto as inspiradas palavras bíblicas que a 'coroa dos anciãos são os filhos dos filhos' (Pv 17,6)".
3.4 ‑ O direito‑dever dos pais de educar
O dever de educar mergulha as raízes na vocação primordial dos cônjuges à participação na obra criadora de Deus: gerando no amor e por amor uma nova pessoa, que traz em si a vocação ao crescimento e ao desenvolvimento, os pais assumem por isso mesmo o dever de a ajudar eficazmente a viver uma vida plenamente humana. Como recordou o Concílio Vaticano II: "Os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de educar a prole e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores. Esta função educativa é de tanto peso que, onde não existir, dificilmente poderá ser suprida. Com efeito, é dever dos pais criarem um ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade para com Deus e para com os homens que favoreça a completa educação pessoal e social dos filhos. A família é, portanto, a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade"(GE 3).
O direito‑dever educativo dos pais qualifica‑se como essencial, ligado como está à transmissão da vida humana; como original e primário, em relação ao dever de educar dos outros, pela unicidade da relação de amor que subsiste entre pais e filhos; como insubstituível e inalienável, e, portanto, não delegável totalmente a outros ou por outros usurpável.
Para além destas características, não se pode esquecer que o elemento mais radical, que qualifica o dever de educar dos pais é o amor paterno e materno, o qual encontra na obra educativa o seu cumprimento ao tomar pleno e perfeito o serviço à vida: o amor dos pais de fonte torna‑se alma e, portanto, norma, que inspira e guia toda ação educativa concreta, enriquecendo‑a com aqueles valores de docilidade, constância, bondade, serviço, desinteresse, espírito de sacrifício, que são o fruto mais precioso do amor.

BIBLIOGRAFIA: - Exortação Apostólica Familiaris Consortio

Nenhum comentário: