FAMÍLIA, VIDA E MISSÃO

Que a Família seja: O Sal da Terra, Luz que ilumina, encobrindo as trevas.

terça-feira

O Sacramento do Matrimônio

I- O Matrimônio no desígnio de Deus
A sagrada Escritura abre‑se com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26‑27) e se fecha com as "núpcias do Cordeiro"(Ap 19,7.9). De um extremo a outro, a Escritura fala do casamento e de seu "mistério", de sua instituição e do sentido que lhe foi dado por Deus, da sua origem e do seu fim, das suas diversas realizações ao longo da história da salvação, de suas dificuldades provenientes do pecado e de sua renovação "no Senhor" (lCor 7,39), na nova aliança de Cristo e da Igreja (cf. Ef 5,31‑32).
O Matrimônio na ordem da criação
"A íntima comunhão da vida e do amor conjugal que o Criador fundou e dotou com suas leis é instaurada pelo pacto conjugal, ou seja, o consentimento pessoal irrevogável" (GS 48). A vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador. O casamento não é uma instituição simplesmente humana, apesar das inúmeras variações que sofreu no curso dos séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Essas diversidades não devem fazer esquecer os traços comuns e permanentes. Ainda que a dignidade desta instituição não transpareça em toda parte com a mesma clareza (cf. GS 47), existe contudo, em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união matrimonial. "A salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem‑estar da comunidade conjugal e familiar" (GS 47).
Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,27) que é Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Tendo‑os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador (cf. Gn 1,31). E este amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e realizar‑se na obra comum de preservação da criação (cf. Gn 1,28).
Que o homem e a mulher tenham sido criados um para o outro, a sagrada Escritura o afirma: 'não é bom que o homem esteja só". A mulher, "carne de sua carne", isto é, seu próprio rosto, igual a ele, bem próximo dele, lhe foi dada por Deus como um "auxílio", representando assim "Deus, em quem está o nosso socorro"(cf. Sl 121,2). "Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne"(Gn 2,18‑25, aqui 24). Que isto significa uma unidade indefectível de suas duas vidas, o próprio Senhor no‑lo mostra lembrando qual foi, "na origem", o desígnio do Criador: "De modo que já não são dois, mas uma só carne" (Mt 19,6).
O casamento sob o regime do pecado
Todo homem sofre a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta experiência também se faz sentir nas relações entre o homem e a mulher. Sua união sempre foi ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominação, pela infidelidade, inveja e por conflitos que podem chegar até ao ódio e à ruptura. Essa desordem pode manifestar‑se de maneira mais ou menos grave, e pode ser mais ou menos superada, segundo as culturas, as épocas, os indivíduos. Tais dificuldades, no entanto, parecem ter um caráter universal. Segundo a fé, essa desordem que dolorosamente constatamos não vem da natureza do homem e da mulher, nem da natureza de suas relações, mas do pecado. Rompendo‑se com Deus, a primeira conseqüência do pecado foi a ruptura da comunhão original do homem e da mulher. Suas relações começaram a ser deformadas por acusações recíprocas; sua atração mútua, dom do próprio Criador, transforma‑se em relações de dominação e cobiça; a bela vocação do homem e da mulher e a ser fecundos, multiplicar‑se e sujeitar a terra, é onerada pelas dores de parto e pelo suar do ganha‑pão (cf. Gn 1,28 ; 2,23 ; 3,12.16‑19).
Não obstante, a ordem da criação subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para curar as feridas do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que Deus, em sua misericórdia infinita, jamais lhes recusou (cf. Gn 3,21). Sem esta ajuda, o homem e a mulher não conseguiriam atingir a perfeição da união de suas vidas para a qual foram criados "no princípio".
O casamento sob a pedagogia da lei
Na sua misericórdia, Deus não abandonou o homem pecador. As penas devidas ao pecado, "as dores da gravidez e de dar à luz"(Gn 3,16), o trabalho com o suor do teu rosto"(Gn 3,19) constituem também remédios que atenuam o prejuízo do pecado. Após a queda, o casamento ajuda a vencer a centralização, o egoísmo, a busca do próprio prazer e abrir‑se e a abrir‑se ao outro, à ajuda mútua, ao dom de si.
A consciência moral concernente à unidade e indissolubilidade do matrimônio desenvolveu‑se sob a pedagogia da lei antiga.
Examinando a aliança de Deus com Israel sob a imagem de um amor conjugal exclusivo e fiel (cf. Os 1‑3; Is 54;62; Jr 2‑3;31; Ez 16;23), os profetas prepararam a consciência do povo eleito para uma compreensão mais profunda da unicidade e indissolubilidade do Matrimônio (cf. Mt 2,13‑17). Os livros de Rute e de Tobias dão testemunhos comoventes do sentido elevado do casamento, da fidelidade e da ternura dos esposos. A Tradição sempre viu no Cântico dos Cânticos uma expressão única do amor humano, puro reflexo do amor de Deus, "amor forte como a morte", que "as águas da torrente jamais poderão apagar"(Ct 8,6‑7).
O casamento no Senhor
A aliança nupcial entre Deus e seu povo Israel havia preparado a nova e eterna aliança na qual o Filho de Deus, encarnando‑se e entregando sua vida, se uniu de certa maneira com toda humanidade salva por Ele (cf. GS 22), preparando assim "as núpcias do Cordeiro"(Ap 19,7.9).
No limiar de sua vida pública, Jesus operou seu primeiro sinal ‑ a pedido de sua Mãe ‑ por ocasião de uma festa de casamento (cf. Jo 2,1‑11). A Igreja atribui grande importância à presença de Jesus às núpcias de Caná. Vê nela a confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o anúncio de que, daí em diante, o casamento será um sinal eficaz da presença de Cristo.
Em sua pregação, Jesus ensinou sem equívoco o sentido original da união do homem e da mulher, conforme quis o Criador desde o começo; a permissão de repudiar a própria mulher, concedida por Moisés, era urna concessão devido à dureza de coração (cf. Mt 19,8); a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel, Deus mesmo a consumou: "O que Deus uniu, o homem não deve separar"(Mt 19,6).
É provável que esta insistência sem equívoco na indissolubilidade do vínculo matrimonial deixasse as pessoas perplexas e aparecesse como uma exigência irrealizável (cf. Mt 19,10). Isso não quer dizer que Jesus colocou um fardo impossível de carregar e pesado demais nos ombros dos esposos (cf. Mt 11,29‑30), mais pesado que a Lei de Moisés. Como Jesus veio para restabelecer a ordem inicial da criação perturbada pelo pecado, ele mesmo dá a força e a graça para viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. É seguindo a Cristo, renunciando a si mesmos e tomando cada um sua cruz (cf. Mc 8,34), que os esposos possam "compreender"(Mt 19,11) o sentido original do casamento e vivê‑lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do matrimônio cristão é um fruto da cruz de Cristo, fonte de toda vida cristã.
II ‑ A celebração do Matrimônio
"Como gesto sacramental de santificação, a celebração litúrgica do Matrimônio... deve ser válida por si mesma, digna e frutuosa" (FC 67). Convém, pois, que os futuros esposos se disponham à celebração de seu casamento recebendo o sacramento da Penitência.
Na Igreja Latina, considera‑se habitualmente que são os esposos que, como ministros da graça de Cristo, se conferem mutuamente o sacramento do Matrimônio expressando diante da Igreja seu consentimento.
III‑ O consentimento matrimonial
Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher batizados, livres para contrair o matrimônio e que expressam livremente seu consentimento. "Ser livre" quer dizer:
‑ não sofrer constrangimento;
‑ não ser impedido por uma lei natural ou eclesiástica.
A Igreja considera a troca de consentimento entre os esposos como elemento indispensável "que produz o matrimônio"(CIC, cân. 1057). Se faltar o consentimento, não há casamento.
O consentimento consiste num "ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente"(GS 48).
IV ‑ Os efeitos do sacramento do Matrimônio
O vínculo matrimonial
O consentimento pelo qual os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é selado pelo próprio Deus (cf. Mc 10,9). De sua aliança "se origina também diante da sociedade uma instituição firmada por uma ordenação divina" (GS 48). A aliança dos esposos é integrada na aliança de Deus com os homens: "O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino" (idem).
O vinculo matrimonial é, pois, estabelecido pelo próprio Deus, de modo que o casamento realizado e consumado entre batizados jamais pode ser dissolvido.
A graça do sacramento do Matrimônio
"Em seu estado de vida e função (os esposos cristãos) têm um dom especial dentro do povo de Deus" (LG 11). Esta graça própria do sacramento do Matrimônio se destina a aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortificar sua unidade indissolúvel. Por esta graça "eles se ajudam mutuamente a santificar-­se na vida conjugal, como também na aceitação e educação dos filhos" (idem).
Cristo é a fonte desta graça. "Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador e o Esposo da Igreja vem ao encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do matrimônio" (GS 48).

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